Novas opções de pagamentos se desenvolvem em ritmo exponencial. Assim como novos participantes, com serviços cada vez mais sofisticados, estimulando uma competição global sem interrupção. Cada tecnologia que nasce apresenta uma oportunidade única e muitos desafios, tanto para empresas consolidadas, como para aquelas emergentes.
O mercado global de fintech foi avaliado em cerca de US $ 127,66 bilhões em 2018 e deve crescer para US $ 309,98 bilhões a uma taxa de crescimento anual de 24,8% até 2022. E as BigTechs tem se destacado nesse ecossistema.
Ao longo dos últimos anos, as empresas de tecnologias foram extremamente importantes para o processo de digitalização e inovação dos bancos. Elas proveram a tecnologia necessária para que instituições financeiras pudessem inovar seus produtos e serviços. Mas agora, as grandes empresas de tecnologia não parecem querer mais funcionar apenas como fornecedoras de infraestrutura. Elas querem ao menos ser dirigentes do processo, junto aos bancos.
Quanto mais a tecnologia penetra no cotidiano, mais ela deixa de ser um diferencial e se torna uma obrigação. Qualquer empresa que quiser continuar existindo, terá que se preocupar com questões de tecnologias.
Assim, a competição entre os bancos e as empresas de tecnologias pode se agravar já estarem na vanguarda de tecnologias inovadora, como inteligência artificial e aprendizagem de máquina –que as companhias financeiras estão apenas começando a desenvolver, inclusive com ajuda dessas mesmas companhias.
I. The Keep Big Tech Out of Finance Act
No dia 15 de setembro de 2019, o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes dos EUA começou a discutir um projeto de lei conhecido como “ The Keep Big Tech Out of Finance Act”. O projeto tinha como objetivo impedir que gigantes da tecnologia – definidas como plataformas digitais com pelo menos US$ 25 bilhões em receita anual- de funcionarem como instituições financeiras.
O projeto foi uma reação direta a Libra, projeto de stablecoin desenvolvida pelo Facebook em conjunto com outras gigantes da tecnologia (VISA, Mastercard, Uber, Sportfy..). A proposta prevê uma multa de US$1 milhão por dia de descumprimento das regras. O texto do projeto de lei diz que:
“uma empresa de grande porte não pode estabelecer, manter ou operar um ativo digital que se destina a ser amplamente usado como meio de troca, unidade de conta, reserva de valor ou qualquer outra função semelhante, conforme definido pelo Conselho de Governadores do Banco Central”.
Apesar do relativo fracasso do projeto Libra, a proposta do Comitê deixou explícito a preocupação que Governos, Bancos Centrais e bancos tradicionais pelo mundo terão com uma tendência irreversível: as empresas de tecnologias começaram a fornecer serviços bancários. E talvez até as mesmas funções que os Bancos Centrais.
Criando Titãs: parcerias entre bancos e empresas de tecnologia
É importante reforçar que apesar começaram a competir com os bancos, as BigTech ainda dependem em parte da infraestrutura dos bancos, devido a suas licenças de operação. E essa dependência se manterá viva por um tempo, já que as empresas de tecnologias não participam do sistema regulado de liquidação de pagamentos.
Por isso, estamos vendo emergir parceiras diretas entre instituições financeiras e empresas de tecnologia. Abaixo, alguns exemplos que não podemos deixar de citar:
A Goldman Sachs lançou em parceria com a Apple Pay um cartão virtual para iPhone. O novo produto, é focado em privacidade e dá cashback de 2% pelas compras feitas com o Apple Pay, sem taxas. Os clientes podem optar por receber um cartão físico que não contém nenhum número visível. Em vez disso, o número do cartão é armazenado em um chip dentro do iPhone. O grande diferencial do produto é sua privacidade! A Apple afirmou que as informações de compra dos usuários são completamente públicas e que nem Apple, nem Goldman podem acessar os dados.
Microsoft fez parceria com o Yes Bank e o Mobikwik para permitir pagamentos digitais na Índia através de seu aplicativo de gerenciamento de trabalho e comunicações, Microsoft Kaizala. Utilizando da integração com a infraestrutura do YES Bank Unified Payment Interface (UPI) e do MobiKwik, os usuários do aplicativo podem enviar e receber dinheiro através do chat, utilizando os serviços dos 87 bancos participantes do UPI.
O Google Pay ampliou suas parceria e passou a trabalhar com mais de com 25 bancos em 14 países distribuídos pela Ásia, Europa e Oceania. Entre as instituições parcerias, estão Bank of America, Citi, American Express e US Bank.
O diferencial das BigTechs: flexibilidade, tecnologia e clientes
Apesar da parcerias entre bancos e as BigTech, elas são um grande desafio para as instituições financeiras e um possível concorrente disruptivo. As fintechs contam com sistemas ágeis de desenvolvimento, mas sofrem com orçamentos e equipes enxuta. Mas esse não é o caso das BigTech.
Companhias como Alibaba, Google, Amazon e Tencent tem ao seu lado o desenvolvimento tecnológico ágil, muito capital e bases de clientes imensas para explorar e expandir rapidamente suas operações de pagamento. Além disso, elas têm um grande diferencial: falta de regulamento definido. Enquanto os bancos se afogam em burocracia, as empresas de tecnologias desfrutam muitas vezes de sandbox regulamentário.
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